segunda-feira, 10 de agosto de 2009

TP 4 - Lições de Escola

Primeiro é preciso dizer que usamos cerca de 60% do tempo destinado ao "encontro-oficina" para ouvir as experiências/ Lições de Casa (ou seriam Lições de Escola?!) dos professores cursistas; o tempo restante foi para explorar a TP 4 uma vez que percebemos que o material não tem sido muito explorado (por diversas razões) pelos professores cursistas em sala de aula. Finalizamos o encontro com a leitura do (ótimo!) causo "A providência divina", de Jô Oliveira (AAA4, pág. 78-79) e definimos como Lição de Casa que o professor trabalharia o texto com seus alunos que, por sua vez, contariam (em grupo) novas "estórias" que nos seriam apresentadas quando nos encontrássemos no dia 26/08/2009.

AGORA, VAMOS À "LIÇÃO DE ESCOLA"?!

“Foi um pouco tumultuado...”
“Eles (os alunos) não queriam colaborar”
“Eu não trabalhei com a TP não; usei o material que eu já tinha.”
“Os
alunos gostaram muito do texto de Drummond (As meninas), principalmente, da
primeira parte.”
“Foi muito difícil. Pensei em desistir. Não consegui muita
coisa não...”

... E foi assim que começou mais um encontro com os professores Cursistas de Língua Portuguesa da Prefeitura de Olinda, na tarde do dia 22/07/2009. O grupo que retornou com a Lição de Casa era um pouco menor que aquele que iniciou o Gestar. Não sabemos ainda o que aconteceu, uma vez que todos foram informados, com antecedência, via e-mail, através deste blog e de ofício enviado pelo Departamento de Educação Básica às Escolas de origem dos Cursistas.

Ausências a parte, demos início à socialização das experiências dos professores. Alguns (poucos) Cursistas falaram de suas turmas, de suas dificuldades e que não haviam trabalhado os gêneros textuais a partir das atividades propostas na TP3 ou no AAA3. Esses professores, embora tenham mostrado a produção de seus alunos, disseram que ao realizar a atividade utilizaram textos retirados de outros livros. Afirmaram, ainda, que não tinham como reproduzir para os alunos o material que consta das TPs. Sendo assim, os alunos não entraram em contato com o texto de Carlos Drummond de Andrade, nem com o debate que o texto suscita...

Situação diversa viveu a maioria dos Cursistas: houve quem reproduzisse o material por sua própria conta; quem lesse o texto para a turma e quem colocasse no quadro de giz para que os alunos transcrevessem para o caderno. De uma forma ou de outra, o Gestar estava acontecendo naquele momento:

“[...] Quando terminaram a leitura (de Essas Meninas), e antes de interpretarmos, sugeri que cada aluno falasse um pouco da impressão que tiveram e, se gostaram, explicassem o porquê, do contrário também. Foi um pouco tumultuado, pois todos queriam falar de uma vez; mesmo assim, percebi que a maioria gostou, principalmente, da primeira parte:

As alegres meninas que passam na rua, com suas pastas escolares, às vezes com
seus namorados. As alegres meninas que estão sempre rindo, comentando o besouro
que entrou na classe e pousou no vestido da professora; essas meninas; essas
coisas sem importância.

O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada
uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desafinado, riem sem motivo;
riem.

As meninas se identificaram bastante, os meninos, inclusive, apontaram procedimentos semelhantes das garotas do conto com as garotas da sala.

Hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar
coisas sem importância. Faltava uma delas. O jornal dera notícia do crime. O
corpo da menina encontrado naquelas condições, em lugar ermo. A selvageria de um
tempo que não deixa mais rir.

As alegres meninas, agora sérias,
tornaram-se adultas de uma hora para outra; essas mulheres.

Outros acharam o texto muito triste e ficaram emocionados; outros o acharam lindo apesar de triste. Comentaram também que aquele fato acontecia no dia-a-dia, na nossa realidade. [...]”
(June Travassos Vasconcelos, professora da Escola Coronel José Domingos da Silva)
Ainda em seu depoimento, a professora afirmou que alguns alunos (do 8º Ano) não compreenderam a segunda parte da narrativa, nesse momento, foi preciso a sua intervenção a fim de que pudesse dar continuidade ao trabalho: produção de um texto de gêneros diversos (notícia, aviso, peça teatral, etc) cujo tema era a Violência e que teria como ponto de partida o conto Essas Meninas.

É importante destacar que a “confusão” entre gêneros e tipos textuais é bem menos frequente e que, quando ela ocorreu, os próprios professores Cursistas apontaram as diferenças entre um e outro termo, o que foi suficiente para dirimir as dúvidas dos colegas.

Merece registro também o Avançando na Prática de Elizabete Tomaz, pois a professora Cursista após ter trabalhado o gênero notícia a partir do conto, optou em explorar os diversos meios de comunicação em que aquele gênero circula, a saber: internet, rádio, TV, jornal impresso e revista. A professora distribuiu jornais e revistas para que os alunos pudessem analisar as características desses meios de comunicação. Divida em grupos, a turma do 8º Ano concentrou-se em produzir notícias sobre fatos ocorridos no cotidiano.

O interessante é que essa atividade acionou a criatividade dos alunos de tal forma que, dos seis grupos, dois escolheram veicular “a notícia” em uma “Rádio” e, para tanto, não hesitaram em gravar suas falas em CD; na mesma turma, houve um grupo eles “construíram” uma TV que será exposta na Feira de Conhecimentos da escola.

A professora não aponta se nessas atividades os alunos exploraram o tema da violência, mas fala da dificuldade que eles têm em trabalhar em grupo e como mediou a situação:

É difícil trabalhar com essa turma devido ao comportamento, porém são alunos
interessados em construir. Alguns não têm interesse, são individualistas e
difíceis de trabalhar, [...] as dificuldades que surgiram eram monitoradas, por
exemplo, para trabalhar em grupo, foi necessário conversar com eles (os alunos),
apontar os erros e mostrar a importância da união para se ter um bom trabalho;
consegui, assim, contornar a situação e começaram a se entrosar e concluir a
atividade.
(Elizabete Tomaz, professora da Escola Claudino Leal)

Dificuldades como essas não foram “privilégio” de um ou outro professor. Para quem está envolvido no processo, a sensação, muitas vezes, é de impotência: “Foi muito difícil. [...]. Não consegui muita coisa não...”

Esse parecia ser o depoimento de quem teria sido (quase) vencido. Teria se na socialização de sua experiência a professora não tivesse omitido aquela que parecia a melhor de todas as lições de casa. Explico: após falar das dificuldades encontradas para trabalhar com a turma que, além de não saber como (ou gostar de) trabalhar em equipe, estava indócil porque a escola em que estudavam estava em reforma e o local para onde foram transferidos não oferecia infraestrutura alguma. O alvo escolhido? Maria*, professora de Língua Portuguesa.


Mas, como “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, Maria, finalmente, conseguiu apresentar a turma a Essas Meninas (ou seria o contrário?!). O resultado é que o conto proporcionou muito mais do que o contato com os gêneros textuais; na verdade, fez com que refletissem sobre a seriedade das, outrora, alegres meninas. Era como se elas próprias temessem virar “essas mulheres”...

Eu e os outros professores – diz Ângela – começamos a perceber que antes, quando terminava a aula, havia no portão da escola uns garotos com os quais nossas alunas se relacionavam e que sabíamos que não eram uma boa influência para ela. Isso nos preocupava. Depois de trabalhar o conto e, devido à maturidade da turma, percebemos que elas não se mostravam mais tão ansiosas para encontrá-los. Alguns deles (felizmente) deixaram de vir buscá-las.

Para alguns, talvez seja cedo para comemorar, mas vivemos em um estado (PE) cuja violência contra a mulher é frequente no gênero notícia, um dos mais trabalhados na sala de aula; por isso, a reflexão sobre o tema e a (possível) mudança de postura dessas “meninas” leva-nos a crer que pode haver, sim, desculpem-me o clichê, “uma luz no fim do túnel”.



* A fim de preservar a professora, optamos por não identificar a escola em que trabalha nem revelar a sua verdadeira identidade.