segunda-feira, 20 de julho de 2009

Lição de Casa: Bolo de violência com cobertura de drogas

Equipe: Andriely, Fabiana, Jéssica, Juliana, Paula Rebeca, Rita de Cássia (7ªA)

“Bolo de violência com cobertura de drogas” é a primeira colheita do Avançando na prática. Explico: hoje, segunda-feira, 20 de julho de 2009, pude ver de perto o fruto do Gestar II, mais especificamente, a resposta à aplicação de uma atividade do AAA3, em que Lucinda Maria Trindade Araújo, 17 anos de sala de aula, professora da Escola Izaulina de Castro, em Ouro Preto (não a Vila Rica!), aplicou em uma de suas turmas do 8º ano (ainda chamadas de 7ª A e 7ª B), bem como a reverberação desse trabalho. O que me deixou aliviada - pois entre o 1º encontro (29/04/2009) que tive com Lucinda, e os demais cursistas, e a data de hoje, houve uma greve na prefeitura de Olinda que durou cerca de 30 dias e, em seguida, veio o recesso escolar - é que a distância não diminuiu a animação, o compromisso da professora cursista de levar para a sala de aula o que havíamos discutido acerca dos gêneros textuais.

Em sua Lição de Casa, a professora trabalhou o conto Essas meninas, de Carlos Drummond de Andrade, e indagou sobre a razão da morte de uma das “meninas”. “Alguns disseram que ela estava grávida de um homem mais velho e que não queria assumir a criança; mas a maioria acreditava que se tratava de um ‘acerto’ por causa das drogas”, afirmou a professora. O que é revelador é que ambas as possibilidades fazem parte do cotidiano desses jovens e têm estampado as primeiras páginas dos principais jornais da capital pernambucana.

Segundo a professora, após o debate inicial, foram dadas à turma algumas sugestões de atividades cuja escolha dos gêneros textuais (orais ou escritos), a saber, editorial, entrevista, classificados, receita, retrato falado, dentre outros. As turmas foram orientadas para que se dividissem em grupos a fim de realizar as atividades. O resultado não poderia ser melhor, pois na “empolgação” houve um grupo que, inconscientemente, produziu o Jornal Classe Livre onde divulgaram gêneros textuais diversos (e que não haviam sido trabalhados) como o gênero textual “acróstico”.


Na foto, a professora Lucinda
Além da “Receita de bolo com cobertura de violência”, é preciso destacar a (feliz) entrevista realizada com professora Vera Lúcia, pelo grupo Rádio: a Voz do Izaulina. A primeira pelo impacto (paradoxo?) de um bolo que já nos antecipa o quanto é intragável, além da possibilidade de explorar/ refletir por que a “mistura: meninas + namorados = assassinato”; a segunda porque um grupo de alunos escolheu Vera Lúcia para falar sobre a violência sem saber que a entrevistada (também professora) havia sido vítima de violência e que, hoje, encontra-se readaptada, trabalhando na Secretaria da escola.
Mais do que cumprir funções em situações comunicativas, as produções dos alunos a partir da orientação do trabalho da professora em sala de aula, permitiram, a meu ver, ampliar a discussão do texto de Drummond para além dos limites das aulas de Português.

O analfabeto do futuro

Competitividade, globalização e empregabilidade são expressões repetidas como palavras de ordem. Porem, o seu real significado esta distorcido pela banalização do uso. A base de todo o movimento de mudanças que essas palavras representam e a competência, que precisa ser vista como a habilidade de realizar. Estamos, em pleno século 21, travando uma luta contra o analfabetismo, a exclusão social e a desigualdade. Contudo, e preciso notar que a própria evolução competitiva da uma nova proporção a essas dificuldades. No inicio do século passado, a alfabetização era a condição de o individuo escrever seu próprio nome. Hoje, ela exige uma competência mais complexa. E preciso, em uma folha de papel, saber exprimir idéias com coerência e fluidez.

Por esse critério, podemos perceber que o problema do analfabetismo brasileiro e mais grave do que supúnhamos. Temos recém-formados que não passariam sequer num teste de redação. Quer dizer, temos analfabetos acadêmicos com nível universitário. Afinal, qual o valor de se desenvolver uma boa redação? Não e pela tarefa em si, mas pelo que representa em termos de raciocínio e capacidade de argumentação. Quando acompanhamos na mídia o embate entre países pela regulamentação do comercio internacional, não estamos vendo uma disputa baseada em números contábeis ou em classificações matemáticas. Estamos, sim, assistindo a um verdadeiro duelo de ideias, que precisam de mentes treinadas para elaborar argumentos e expressa-los com eloquência.

Enquanto embaixadores, negociadores e empresários se engalfinham em retóricas comerciais, nos também temos de desenvolver raciocínios comerciais mais bem elaborados e dar para nossas ideias uma argumentação que lhes permita aceitação e implementação. Em síntese, dominar a mesma técnica necessária para elaborar uma boa redação.

Parece estranho que nosso sucesso comercial como nação dependa da habilidade dos cidadãos em desenvolver uma boa redação, mas não se trata apenas da formação de literatos. Trata-se do domínio da tecnologia do pensar, do expressar, do compartilhar. A era das guerras físicas chega ao fim, mesmo com conflitos sangrentos. Os confrontos deste século serão cada vez mais intelectuais. O predomínio da mente sobre a forca bruta.

Nessa nova arena, a quantidade perde terreno para a qualidade. Não se contarão vitorias pelo numero de alfabetizados, mas pela habilidade dessas pessoas em dominar as técnicas para compor e expressar ideias. Já superamos a Era do Conhecimento, na qual o acumulo do saber era o diferencial competitivo. Estamos vivendo a Era da Cultura, na qual fará diferença a habilidade para selecionar o conhecimento de maior valia para determinado episodio.

Nessa esfera, a educação, que sempre foi apregoada como o meio para mudar o destino do pais, passa a ser insumo de primeira necessidade. Deveríamos colocá-la entre os artigos da cesta básica do trabalhador brasileiro. Deveríamos fazer mutirões de educação e espalhar o conhecimento como quem distribui o pão a quem tem fome. E, para eliminar a fome, teríamos de alimentar o saber.
Entre a necessidade de assinar o nome e a urgência em dominar a redação, passaram-se 100 anos. Para darmos o salto em direção a elaboração de teses cientificas para a competitividade do pais, não teremos sequer uma década. Estamos vivendo muitos mundos simultâneos, nos quais as eras agrícola, industrial e comercial se sobrepõem.

O desafio e fazer desse caldeirão um ambiente de aprendizagem, um laboratório de experiências, uma tribuna de dialogo e um campo de atuação da vanguarda.
Para isso, precisamos investir no desenvolvimento intelectual de nossos jovens. Precisamos de gente preparada para observar, conceber, desenvolver e exprimir ideias com desenvoltura e conhecimento. Precisamos de gente que, em uma simples redação, seja capaz de fazer a narrativa que ira contar a historia do futuro.
MAGALHAES,

Dulce. O analfabeto do futuro. In: Revista Amanhã, p. 74.

Disponivel em: www.elfa.ucpel.tche.br/docs/generos.doc Acesso em 12/06/09.