terça-feira, 2 de março de 2010

Sugestão de Leitura

A PRÁTICA DA CRIAÇÃO E A APRECIAÇÃO MUSICAL COM ADULTOS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA.

Bernadete Zagonel

Durante alguns anos ministrei as disciplinas de Apreciação Musical para alunos de Licenciatura em Música na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. A experiência me mostrou que, a cada vez que desenvolvíamos um estudo baseado na criação, a apreensão dos conceitos se fazia de maneira mais eficaz. Resolvi, então, fazer um estudo comparativo sobre essa questão, observando mais de perto e anotando os resultados de cada tipo de abordagem metodológica, para em seguida proceder a uma análise, mesmo que parcial, dos dados obtidos. Não tenho a pretensão de generalizar esses resultados, pois tratou-se de um estudo limitado a dois grupos pequenos de alunos, mas acredito terem sido revelados indícios concretos sobre a importância da prática da
composição para a aprendizagem musical.
Elaborei assim um programa de aulas, no decorrer do ano de 1997, com duas turmas de alunos bastante distintas: no primeiro semestre com uma classe do Curso de Licenciatura da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, e no segundo com uma classe do Curso de Educação Artística da Universidade Federal do Paraná. É importante ressaltar que em ambos os grupos havia alunos com um conhecimento prévio de música, e outros totalmente iniciantes, da seguinte maneira: no da UFBA, metade dos alunos freqüentava o curso de Licenciatura em Música, e a outra metade era composta por alunos de áreas diversas interessados no aprendizado musical. No grupo da UFPR, havia alunos cuja opção de estudo específico era música e também outros das áreas de desenho e pintura.

Ambas as turmas contaram com uma carga horária de 30 hs./aulas. O grupo da UFBA era formado por 16 alunos, e o da UFPR por 21. Não foi possível ter o mesmo número de estudantes nas duas turmas por razões administrativas de cada Universidade, uma vez que esses não foram grupos formados especialmente para esta investigação, mas eram turmas regulares dos cursos em questão.

Os objetivos principais deste estudo comparativo foram observar:
1. Em que medida esses alunos melhoram a capacidade de compreensão da música a partir da apreciação e análise pela audição de obras do repertório clássico.
2. Até que ponto o acréscimo de uma prática de criação (composição) melhora ou aumenta essa capacidade de compreensão.

Os conteúdos musicais abordados foram os seguintes:
• Forma: no sentido da estrutura da obra e reconhecimento de algumas formas simples: AB, ABA, ABACADA e reconhecimento de temas e motivos.
Pretendeu-se que o aluno fosse capaz de apontar qual a forma de uma obra simples após duas ou três audições, reconhecendo o tema principal, as repetições e variações, para compreender de que maneira a peça estaria estruturada.
• Instrumentos: foram trabalhados alguns instrumentos da orquestra, pedindo-se o reconhecimento, pela audição, do timbre dos principais deles.
• Métrica: reconhecimento de compassos binários, ternários ou quaternários.
• Estilos de épocas: não se pretendia, evidentemente, que em tão pouco tempo os alunos conseguissem distinguir as estéticas de todas as épocas da história da música ocidental. Teve-se a intenção apenas de dar-lhes uma noção dos estilos musicais mais marcantes e característicos de algumas épocas para que, mesmo pela intuição, o indivíduo fosse capaz de reconhecer se uma obra pertence ao período barroco, romântico ou contemporâneo, p. ex.
• Andamento e caráter expressivo: foram vistos alguns termos utilizados para determinar os andamentos, e também foi discutido que tipo de expressão e sentimento uma música pode sugerir.

Na turma da Escola de Música da UFBA (Grupo A) desenvolveu-se apenas o trabalho de apreciação, pela audição, das obras selecionadas, e na da UFPR (Grupo B) também foram feitas práticas de composição coletiva em sala de aula, usando-se sempre os mesmos conteúdos musicais.
Foi selecionado o seguinte repertório para a turma que só trabalhou com a apreciação pela audição de obras: Pedro e o Lobo, de Prokofief, O Carnaval dos Animais, de Saint-Saens, As quatro estações, de Vivaldi (Primavera e Inverno), Bolero, de Ravel, Sequenza III, de Berio.
A escolha destas obras se deu porque são todas músicas de curta duração e de estrutura relativamente simples e, conseqüentemente, de fácil compreensão. Da mesma forma elas proporcionam uma audição clara (em alguns casos quase individualizada) dos timbres dos diversos instrumentos. No caso do Carnaval dos Animais e das Quatro Estações, cada peça foi trabalhada detalhadamente, usando-se várias aulas para se apreciar a totalidade da obra.
Para se guardar a mesma carga horária, foram retiradas algumas obras do programa de uma das turmas. Desse modo, para a classe que fez também a prática de criação foram apreciadas apenas as obras de Prokofief, Berio, algumas peças do Carnaval dos Animais de Saint-Saens e o Concerto Primavera de Vivaldi.
A parte de criação foi toda desenvolvida em sala de aula, e em grupo.
A cada vez eram escolhidos alguns elementos musicais com os quais os grupos deveriam trabalhar de maneira livre. Não se fazia restrição quanto ao tipo de material sonoro, podendo se utilizar tanto notas musicais quanto sons e ruídos os mais diversos. Assim também se deixou livre a escolha dos materiais sonoros tendo sido empregados, na maioria das vezes, sons vocais e alguns objetos sonoros, devido à falta de instrumentos disponíveis.
Os grupos recebiam como proposta criar uma seqüência musical enfatizando um elemento musical em particular, dentro daqueles selecionados e já descritos anteriormente. Por exemplo: contrastes entre sons longos e curtos, ou entre caráter rítmico e melódico; organização da seqüência dentro de uma forma pré-determinada; e outras mais. Este funcionava como apoio e ponto de partida para a composição. Depois de criadas e executadas para apreciação dos colegas, havia um momento para discussão, onde eram detectados os elementos musicais principais trabalhados em cada seqüência. Nesse momento, a equipe criadora também falava de seu processo de criação e de suas intenções estéticas e expressivas, e os ouvintes falavam de suas impressões e percepções.
Apesar de se pretender sempre o treino da apreciação pela audição somente, nestes exercícios de criação se estimulou a feitura de partituras escritas, para dar apoio e auxiliar na estruturação da composição. As partituras eram inventadas pelos grupos, e depois expostas na sala para que todos os demais pudessem lê-las e compreendê-las.
Para a análise dos dados, foi utilizado o sistema de teste-controle, aplicado no início e no fim da pesquisa. Assim, no primeiro dia de aula, aplicou-se o teste para medir a compreensão dos alunos após a audição de duas obras diferentes: Prelúdio da ópera Carmen de Bizet, e o 3° Movimento do Concerto para Trompa de Mozart. Terminado o semestre, aplicou-se novamente o mesmo teste, com as obras ouvidas na primeira vez. No questionário havia questões abordando: forma, temas e motivos, timbre dos instrumentos da orquestra, métrica, estilos de épocas, andamento, caráter expressivo e textura.
O procedimento foi o seguinte: as obras foram ouvidas três vezes.
Logo após o final das audições de cada uma os alunos responderam às questões constantes no teste. As questões foram mais de ordem de percepção do que de conhecimento, embora este pudesse auxiliar na compreensão da música ouvida.

Resultados:
Foi possível constatar que: 1. os alunos mostraram melhora na capacidade de compreensão dos conteúdos selecionados após o trabalho de percepção musical pela audição. 2. a turma que desenvolveu a prática da criação junto com a apreciação musical de obras do repertório clássico (Grupo B) mostrou aproveitamento superior à que apenas fez apreciação pela audição (Grupo A).

No Grupo A houve um aumento na média dos testes na ordem de menos de um ponto (0,55). Já no Grupo B houve uma melhora de quase dois pontos (1,95). Pôde-se observar igualmente que o item onde houve maior índice de acertos no pós-teste foi o referente à forma.
O que se pode deduzir com esta pequena investigação é que, quando o aluno tem a possibilidade de manipular os conceitos musicais por meio da prática da composição, estes são apreendidos com eficiência e mais profundamente. Já nos métodos ativos se pregava a importância da participação do estudante e do “fazer” para a melhor compreensão da música. Ao trabalhar com a música de maneira livre e criativa o indivíduo estabelece laços mais próximos com os códigos com os quais está agindo e interagindo, e tem condições de se apropriar da linguagem. Sua curiosidade é naturalmente aguçada, e ele parte em busca do conhecimento de novos elementos na tentativa de solucionar problemas ou concretizar idéias. Este procedimento lhe impulsiona a ir além, a compreender melhor o funcionamento da música como um todo, seus diálogos, sua estrutura, suas articulações, as possibilidades de materiais sonoros. Pouco adianta se fazer pesquisa de sons a partir de objetos (prática, aliás, bastante divulgada ultimamente), se não se chega ao fazer musical, onde estes elementos tomam
vida.

O fato de se ter trabalhado com os elementos musicais na composição fez com que eles fossem rapidamente identificados quando da audição de uma obra, dando-se assim o processo de transferência dos conteúdos aprendidos. É a sensação do “já conhecido” e da familiarização.
Isto aconteceu não somente com relação às obras que se enquadram na estética da tonalidade, como também com o exemplo musical contemporâneo, onde os pontos de referência são diferentes. Não se detectou dificuldade de compreensão ou de aceitação por parte dos estudantes ao ouvir a peça de Berio, pois os elementos antes usados nas seqüências produzidas por eles foram rapidamente identificados.
Além disto fica claro o prazer que confere ao aluno a sensação de ver o trabalho por ele imaginado e criado ser concretizado e apresentado ao público.
Ao mesmo tempo foi possível observar como o trabalho de criação em grupo disciplina, socializa e ensina. O respeito pelo outro, o saber ouvir, criticar e aceitar idéias alheias foram comportamentos visivelmente desenvolvidos durante o processo de criação.


Artigo publicado em:
Anais do VI Encontro da ABEM, Recife, 1998.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Colegas Cursistas, sejam bem vindos ao Avançando na Prática 2010!


Que este ano possamos dar continuidade ao Programa Gestar II de Língua Portuguesa com a mesma disposição que discutimos a nossa prática pedagógica e confraternizarmo-nos.
Um grande abraço,
Edvânea Maria

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Colega Cursista,

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.

Autor: (Carlos Drummond de Andrade)


Um Feliz Natal e Um 2010 com muitos "Avançandos" na prática!!!
Um grande abraço,
Edvânea Maria (Professora Formadora)

domingo, 29 de novembro de 2009

TP6 e AAA6: Quando o aluno é o professor...

Estamos chegando ao final de nossa “gestação”: os projetos já estão nascendo, o comprometimento dos professores Cursistas é visível e o interesse dos alunos é algo animador.


Os projetos são os mais variados possíveis, vão desde “Mulher não é saco de pancada”-em que os professores cursistas Saulus Pereira e Elis Mônica, da Escola Antônio Correia no Alto da Conquista, que visa discutir a violência doméstica contra a mulher a partir de um trabalhar interdisciplinar que conta ainda com a participação da comunidade – até “A leitura na linguagem musical”, que será implantado na Escola Claudino Leal, sob a orientação das professoras Elizabete Tomaz, Maria do Socorro Marinho e Sandra Amaral. A ideia destas profissionais é levar a leitura, no sentido lato da palavra, de canções de ícones da Música Popular Brasileira como Heitor Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga, Hermeto Paschoal e Chico Buarque – parece-nos que as autoras do projeto comungam com a ideia do carnavalesco Joãosinho Trinta de que o povo gosta de luxo, diríamos que o povo precisa de luxo (!) – a leitura crítica das composições desses ícones, acreditam as autoras, tem como fatores determinantes os contextos étnicos, históricos e socioculturais, além da relevância da nacionalidade de determinada produção musical. É esperar para ver!
Quanto ao interesse dos alunos, reproduzimos, sem refacção, o depoimento de Yasmin Arlim, aluna da 7ª Série: “Eu gostei (do Gestar), por quê nós podemos refletir no texto, nós podemos usar o texto, Escreveno outro, foi muito interessante pois faz com que nos se dispertamos daquilo que estamos leno, e podendo reescrever o texto e melhor ainda, eu gosto de aulas assim, Por que é diferente e legal, e faz com que possamos usar a cabeça e interte os nossos pensamentos”.
Maravilhoso, não?!
Ou ainda: “Numa sala de aula é fundamental não ficar só aprendendo sobre sujeito, predicado, compreensão de texto, etc. Tem que criar, dar nossa opinião, usar nosso talento num anúncio publicitário, criarmos algo e provarmos que dá certo em trazer novidades com aulas mais atrativas. Tinha dificuldade em saber a diferença entre descrever, argumentar e narrar. Com as atividades, minha dificuldade diminuiu. Criamos histórias que de tão malucas, ficaram engraçadas. Gostaria que as aulas fossem sempre assim”. Gleice Kelly, 14 anos, aluna da Escola Ministro Marcos Freire, aquela mesma que tem como projeto didático para 2010 “Conhecer o Sol Nascente através dos gêneros textuais”, sob a orientação da professora cursista Jaciara dos Santos.
Essa disposição dos alunos também aparece na Avaliação Diagnóstica, pois, mesmo tão jovens, os alunos do 6º Ano, se dispuseram a colaborar com o sucesso do Gestar II:
“[...] Com o conhecimento de que iriam participar de uma avaliação Diagnóstica do Gestar II, os alunos demonstraram bastante interesse e disposição em nos ajudar. Sendo assim, chegamos a seguinte conclusão: a maioria da turma apresentou bons resultados nos descritores que faziam referência à localização de informações explicitas em um texto; reconhecer, em narrativas, a fala do narrador e das personagens e relacionar textos de gêneros diferentes.
Quanto aos descritores com maior índice de dificuldade, foram aqueles em que se fazia necessário o reconhecimento, no texto, do valor expressivo dos recursos linguísticos e o efeito de sentido gerado por eles.
Na produção de texto, a maioria apresentou dificuldade na coerência e coesão do texto. Com base nestes dados, faz-se necessário um trabalho efetivo, com o auxílio do Gestar II, nestes descritores com baixo aproveitamento, para que os alunos possam avançar com sucesso” Socorro Marinho, professora da Escola Claudino Leal.
É nesse sentido que temos trabalhado em nossas oficinas a que chamamos de Tarefa de Classe e, se o aluno está lendo/escrevendo melhor (e o faz com prazer!), é porque temos professores que estão fazendo sua Lição de Casa. E, se a dificuldade é como a coerência e coesão do texto, nada melhor que trabalhar com o professor essa dificuldade a partir do Planejamento da escrita do TP6, ou melhor, do Caderno AAA6.
A nossa Tarefa de Classe nessa oficina foi tentar “unir a fome com a vontade de comer”. Explicamos: observamos que alguns professores (não necessariamente os professores cursistas) ainda trabalham as datas comemorativas, a exemplo do ciclo natalino, de maneira tradicional, e como a reflexão crítica tem dado o tom nos textos que produzimos (nós e nossos alunos!) na sociedade (e para ela), planejamos a nossa escrita, enquanto alunos-professores, a partir do tema “violência contra o menor”. Nesse sentido, começamos fazendo uma leitura crítica da tirinha de Quino (cartunista argentino) em que a precoce Mafalda defende a tese a tese de que “o mundo está doente”, claro, com crianças que (sobre) vivem nas/das ruas!
Em seguida, mostramos uma série de fotos de crianças que são o retrato do abandono do poder público e perguntamos aos professores cursistas, numa referência ao “Qual é a música?”, que canção seria a trilha sonora para aquelas imagens. A primeira resposta acertou em cheio na canção que havíamos selecionado, trata-se de O Meu Guri, de Chico Buarque. O passo seguinte foi apresentar um vídeo desta canção e que está disponível no em http://www.youtube.com/watch?v=wkF0UAGQ8Uc&feature=fvst
Associamos a imagem da mãe que se “orgulha” do filho que “disse que chegava lá”, bem como o seu sofrimento, à imagem da Pieta (1499) de Michelangelo, e uma releitura dela, um quadro “fragrante” das grandes cidades:
A discussão que esse material suscitou é parte do planejamento da produção escrita que o aluno, quer dizer, o professor realiza sem “sentir”... Havia algo, ainda, que queríamos explorar mais e que nos remete à ideia de unir o útil ao agradável; nesse sentido, mostramos-lhes mais duas imagens para que os auxiliassem na sua produção textual:

TEXTO A


TEXTO B
No passo seguinte, adaptamos as sugestões de Atividades do AAA6 para o tema que estávamos trabalhando e dividimos a turma em três grupos com as seguintes atribuições:
Grupo 1- Elaboração de uma Peça teatral a partir de uma das imagens acima (Adaptação do AAA6)
Grupo 2: Retrato falado (e poético) do personagem que aparece no texto-imagem (Adaptação do AAA6, pág. 40)
Grupo 3: Propaganda da peça teatral (Adaptação do AAA6, pág. 44)
Nessa Atividade especificamente, os grupos teriam que interagir a fim de que garantir a coerência e coesão de suas produções que deveriam formar um todo. Nesse sentido, demos o seguinte comando:
“Agora que você já conhece as características da peça teatral e o retrato falado (e poético) do protagonista, pode criar uma propaganda que garanta aos “produtores” vender o “seu produto” e, de quebrar, discutir nossa responsabilidade social. Como você não tem experiência na área da publicidade, nós lhe daremos uma ajudinha...”
MAIS UMA VEZ INSPIRADOS NO AAA6...
Para preparar uma propaganda, são importantes alguns cuidados:
• Dê maior destaque às qualidades.
• Direcione o seu texto ao “público consumidor” adequado.
• Fale o essencial para não cansar ou desestimular o possível espectador.
• Procure apresentar no texto uma imagem, palavra ou sensação agradável (mas pode ser também reflexiva!), para aproximar o leitor do texto e seduzir o consumidor. O título (inicial) da peça é só uma sugestão.
• Escolha com cuidado o que vai dizer: selecione bem as palavras, faça frases claras e diretas e não deixe dúvidas sobre o produto.
Por fim, não mencione qualquer informação negativa sobre a peça; é melhor ignorar do que tentar justificar.
* Invente um título interessante para a peça.
* Escolha as informações que você apresentará em sua propaganda.
* Defina a ordem em que as informações serão organizadas no texto.
* Defina a imagem que acompanhará o seu texto.
* Crie uma frase forte para atrair o espectador. Utilize-a como título ou como desfecho do texto.

Durante a produção textual, percebemos que dois grupos se fundiram, pois alegaram que não teriam tempo (sempre ele!) para organizar uma peça teatral e encená-la. Concordamos com os colegas e sabemos que, em nossas turmas de 6º ao 9º, tempo é o que não faltará aos nossos alunos; além disso, eles adoram trabalhar com peças teatrais.
Outra questão observada é que os dois grupos não interagiraram realmente(Propaganda e Retrato Poético), e o resultado disso aparece na falta de coerência e coesão de suas produções. Vejamos:

PROPAGANDA:“A história de Natal que sua mãe não contou”
A peça Anjos Rebeldes está em cartaz há três anos e é recorde de público em todo o país. Agora, chega a sua cidade em curta temporada. Não perca e leve a sua família. O ingresso é um quilo de alimento não perecível para ser doado a uma instituição de caridade. Seja você também, neste natal, um verdadeiro Papai Noel.
Ho! Ho! Ho! Ho!

Grupo: Andrea Maria, Ângela Costa, Jaciara Santos, Valdete Amorim

RETRATO FALADO, POÉTICO:
E agora, José?
A Escola acabou
A vida chamou
Você fugiu
Sua vida mudou
E agora, José?

Sarará, sorriso inocente
Teus olhos tristes que pedem socorro
Mostrando a criança
Chupando o dedão, com a cola na mão
E agora, José?

Abrir os olhos pela manhã
É remar contra a maré
A esperança só presente
No verde-cinza, José
E agora, José?
José para a vida
E agora, José?
Para a vida.
Qual vida?

Grupo: Alethea Neves, Elis Mônica, Elizabete Tomaz, Márcia Cilene Andrade, Maria de Fátima, Maria do Socorro Marinho, Yanna Rocha

É inegável a criatividade de nossos colegas cursistas, mas é preciso reconhecer que, talvez devido ao famigerado tempo, não conseguiram planejar bem essa atividade, daí a falta de conexão entre as produções... Situação parecida ocorre na sala de aula, a diferença é que os “grupos” seriam as ideias, os parágrafos que não estão/são coerentes e/nem coesos.

Devido ao avançando da hora, os professores não conseguiram fazer a refacção dos textos, essa “tarefa” foi proposta aos professores cursistas da turma da noite que, após passarem pelo mesmo processo de discussão do tema e reflexão das inadequações, propuseram as seguintes “soluções”:

1 – era preciso saber a sinopse da “peça teatral” para poder se pensar no “retrato falado/poético” do protagonista e, posteriormente, na “ propaganda da peça”;

2 – a mudança no título da peça de “Anjos Rebeldes” para “Cem paz neste Natal”, uma vez que esse título dialogava muito mais com a imagem escolhida pelos professores cursistas (do turno da tarde) que corresponde ao garoto com a arma em punho e a frase: “NESTE NATAL LEMBRE-SE DE MIM”;
3 – a mudança mais “radical” foi no retrato poético, pois em vez do poema E agora, José, de Carlos Drummond de Andrade, os colegas parodiaram a canção A novidade, do grupo Os Paralamas do Sucesso.

VAMOS À REFACÇÃO DOS TEXTOS?!

PROPAGANDA
“A história de Natal que sua mãe não contou”A peça Cem paz neste Natal está em cartaz há três anos e é recorde de público em todo o país. Agora, chega a sua cidade em curta temporada. Não perca e leve a sua família. O ingresso é um quilo de alimento não perecível para ser doado a uma instituição de caridade. Seja você também, neste natal, um verdadeiro Papai Noel.
Ho! Ho! Ho! Ho!

SINOPSE DA PEÇA

Cem paz neste Natal Família de classe média vai às compras na época natalina e se depara com uma situação inesperada.

RETRATO POÉTICO FALADO DO PROTAGONISTA
A novidade era o máximo
Um paradoxo numa mesa alheia
Alguns comendo uma farta ceia
Outros lá fora sem dinheiro e sem meia

Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão igual
Ô!, Ô!, Ô!, Ô!,
De um lado este Natal
De outro, a fome total
Ô!, Ô!, Ô!, Ô!,

Um menino de rua
Despenteado e desdentado
Abandonado e maltratado
Humilhado e vigiado
Quer apenas um bocado
Do que você tem se fartado

Cem reais ele não tem
Mas com a arma ele vem
Sem medo de morrer
Ele busca seu natal
Se você se esquecer dele
Você vai se dar mal.


Grupo: Bruno Rodrigo, Israel de Oliveira, Ladijane Correia, Larrineide Mariano, Rosileide Ferreira

Embora não tenhamos acesso à “peça” escrita, ao lermos as refacções dos textos, percebemos como essa atividade é relevante no processo de coesão e coerência não só em um mesmo texto, mas também entre os demais gêneros textuais aqui produzidos. Ademais, o aparecimento no texto de palavras como cem/sem permitem-nos, por exemplo, abordar um dos “conteúdos” propostos pela gramática normativa, a saber, os parônimos, não é mesmo?!
Imaginem quantos “assuntos” ainda poderíamos apontar?
Bem, como vocês podem perceber, a socialização (e refacção) dos textos está ocorrendo primeiro pela web; mas, no dia 09/12/2009, estaremos todos juntos (professores cursistas da tarde e da noite) a fim de trocarmos nossas (e novas!) experiências e, é claro, confraternizar-nos!

Até lá!
Um grande abraço,

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

TP 2: Não sofrendo mais a Gramática...

No último dia 07/10/2009, tivemos mais um encontro que, como vem acontecendo, foi muito proveitoso. Discutir o ensino da Gramática e seus vários sentidos é uma tarefa, às vezes indigesta, pois estávamos (felizmente já faz algum tempo!) acostumados ao ensino da Gramática prescritiva, isso mesmo, a nor-ma-ti-va, e, embora tenhamos consciência da Gramática Internalizada, não é a ela que muitas vezes recorremos em nossas “aulas de análise sintática” e nem por isso elas (as aulas) são mais produtivas?!
Não é verdade, ainda, que ouvimos nossos alunos dizerem que “português é difícil”, que não conseguem conjugar os verbos “corretamente” e que não conseguem classificar uma oração subordinada substantiva objetiva direta, acrescente-se ainda, reduzida de infinitivo, de gerúndio ou de particípio”?!
E o que dizer quando na oração “Indústria demite 16.000” falamos para nosso aluno que “indústria” é o sujeito simples em vez de, reflexivamente, levá-lo ao analisar quem, de fato, está por trás das demissões; em outras palavras, dar nomes aos bois. Nesse sentido, nosso aluno descobriria que o sujeito, na verdade, pode ser composto... Esse estudo reflexivo, sem dúvida, é mais produtivo.
Trabalhar o ensino da língua reflexivamente é característica da Gramática descritiva e que “faz uma dobradinha” com a Gramática internalizada, ou seja, a língua em uso. Por essa razão, ao discutirmos o TP 2, recorremos à internet, mais especificamente, ao blog www.placasridiculas.blogspot.com. Vejamos o que havia estava escrito na “placa”:

NÃO ME INVEJEM
TRABALHEM!
A SUA INVEJA E A MINHA
FELISIDADE
Nela, observamos que há pelo menos dois registros diferentes do que prescreve a gramática, mas antes de tachá-los como “erros” era preciso que considerássemos as razões possíveis para o uso de cada um deles.
Eis abaixo nossa tentativa de resposta:
1 - A letra “E” (sem acento!) e “FELISIDADE”, os vocábulos são escritos conforme opções gráficas possíveis.
2 – “E” é a 5ª letra do alfabeto (e a 2ª vogal), e pronunciamo-na, assim, com o som aberto (é) sem o uso do acento. Os habitantes da região sudeste, por sua vez, chamam-na de “Ê” (som fechado, mas sem o acento circunflexo); portanto... Maria e aluna da Educação Básica, em vez de Maria é aluna da Educação Básica.
3 – O substantivo “felicidade” é escrito, também, conforme as opções gráficas: “silêncio”, “psicólogo”, “cursinho”, etc
Como chegamos a essa descrição? Primeiro, observamos cuidadosamente determinados textos produzidos pelos falantes. Depois, tentamos analisar e descrever o que observamos. Nesse caso, estamos usando um pequeno exemplo de estudo da chamada gramática descritiva (reflexiva). Como já anunciamos, ela procura simplesmente descrever os usos das regras da língua e buscar razões para esses usos, sem a preocupação de rotular os empregos em “certos” e “errados” (TP 2, p. 20).

A fim de ratificar as razões para o emprego de uma grafia em detrimento de outra (a “correta”), tomamos como objeto de análise o texto do aluno da 5ª Série, Herbert Arão, quando em sua “pregação” ele “Sauda (sic) a Igreja com a pas do Senhor...”. Vamos nos deter apenas na grafia da palavra “pas/paz”.
No dia a dia, deparo-nos com as palavras mas/mais/más, essa última, acreditamos, embora adjetivo, feminino, plural e substituída por “mau”, a saber, “Ela é mau” / Elas são “mau”, quando o correto seria: Ela é má/ Elas são más. Mas, voltemos ao mas e mais:
1 – Pas/paz, mas/mais têm o som de “S”;
2 – Ok, o leitor pode dizer que nossos alunos veem, o tempo todo, a palavra “paz” grafada com “Z”; esse argumento, contudo, pode ser colocado em xeque uma vez que ele pode, sim, já tê-la visto escrita com “s”. Explicamos: na cidade do Recife, mais especificamente no bairro de Campo Grande, existe o Clube das Pás, um dos espaços mais tradicionais da gafieira pernambucana, ideal para quem gosta de dançar. Vale ressaltar que se trata de um lugar centenário, lugar de paz e de muita alegria...
Embora, na maioria das vezes, o nosso aluno saiba, mas a palavra “paz” é derivada do latim pacem - “C”, “S” sons próximos, não?! – e é natural a sua (quase total) incompreensão quando lhe “ensinamos” que o adjetivo superlativo absoluto sintético de “amigo” é “amicíssimo”, derivado do latim “amicus”...

Somos o escriba de que falou Paulo Leminski? É o que imaginamos: NÃO, NÃO SOMOS.
Estamos certos de trabalhar a Gramática normativa, hoje, da maneira que a aprendemos (aprendemos?) é concordar que ela continue a ser o “guia de uso da língua”, e que estabeleça o certo e o errado, privilegiando as regras do dialeto culto, visto como o único válido e legítimo no ensino da língua.
É ratificá-la como um receituário de “boas maneiras lingüísticas”, colocado à disposição dos falantes, especialmente dos alunos. Infelizmente, nessa gramática, a norma culta parece ser a “língua correta”, a noção de erro e acerto é muito marcante, enquanto nas gramáticas descritiva e produtiva a noção mais importante é a adequação da linguagem a cada situação sociocomunicativa (TP 2, p. 25-26).
Isso posto, está claro que concordamos que para o ensino da língua, é essencial o trabalho da gramática Internalizada, “que pode e deve ser cada vez mais ampliada, o que se consegue sobretudo pelo ensino produtivo da língua, que privilegia o desenvolvimento da língua “em uso” e pretende desenvolver novas habilidades do falante” (TP 2, p. 16-18).
É importante lembrar, contudo, que não é fácil deixar de ensinar (nem devemos deixar de fazê-lo!) a Gramática normativa; devemos ensinar, sim, contudo, a partir de uma situação concreta de uso, o que, convenhamos, é um processo lento, mas eficaz. Não existem formas milagrosas. Existe (e exige) tempo e co-responsabilidade, isso mesmo: nosso aluno deve ser responsável nesse (e por) esse processo.
Nesse sentido, e a fim de facilitar o Avançando na prática - que, como sabemos, é o momento em que o professor Cursista leva para a sala de aula dele o que vivemos em nossas Oficinas – e, consequentemente, a Lição de Casa, propusemos aos professores uma Tarefa de Classe que consistiria na elaboração (em grupo) de uma Situação Didática real que poderia ser aplicada em uma turma de 6º, 7º, 8º ou 9º Ano, a partir do estudo/ análise da Gramática Normativa.


Da esquerda para a direita, Márcia Vilar, Lucinda Trindade (de blusa branca),
Jaciara Santos e Cassiana


Em primeiro plano, Valdete Amorim; à esquerda (de blusa branca), June Travassos; ao fundo (de preto), “inspecionando” (rssssss) a Tarefa de Classe, Elizabete Tomaz


June Travassos e Ângela dos Santos

Plécia (de azul), Socorro Marinho, Sueli Prazeres, Márcia Cilene (de amarelo) e Elizabete Tomaz

Com muito humor e criatividade, os colegas Cursistas propuseram situações comuns de sala de aula e discutiram de que maneira trabalhariam as “incorreções” dos alunos

Saulus Pereira, professor cursista

Percebemos o quanto da oralidade está presente no trabalho desses “alunos”: “vendi si” (vende-se), “nu” (no), “trata” (tratar), e ainda temos “caza” (sic)! Após a discussão acerca das escolhas, observamos que o passo seguinte seria o da refacção do texto:
Essa Situação Didática ratifica o que diz o TP 2 (p. 21) sobre o estudo reflexivo da gramática ser “quase sempre um desdobramento natural de um bom ensino produtivo da língua. Muito raramente, o ensino produtivo não implica algum tipo de questionamento e de reflexão. Bons exemplos desse trabalho são os estudos de interpretação e o de reescrita de nossa produção. A chamada “refacção de textos” é, sem dúvida, um momento de reflexão sobre nossas escolhas e as possibilidades de melhor expressão. Nesses casos, trata-se de estudar as possibilidades linguísticas mais adequadas a determinado momento de comunicação, e não de rotular fórmulas certas ou erradas”.
Então, vamos à refacção!

VENDE-SE UMA CASA E UM TERRENO NO VASCO DA GAMA.
TRATAR: 3829-2527

O resultado do Avançando na prática você poderá, em breve, acompanhar aqui mesmo.
Até lá!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vale a pena conferir!

A CAMINHO DA PRODUÇÃO DO TEXTO DISSERTATIVO NO ENSINO FUNDAMENTAL
(ON THE WAY TO PRODUCE ARGUMENTATIVE TEXTS AT PRIMARY SCHOOL)

Adriana FISCHER (Universidade Federal de Santa Catarina)

RESUMO: A produção de textos dissertativos em séries iniciais do Ensino Fundamental é ainda uma atividade restrita. Devido a esta constatação, propõe-se, então, um trabalho com esse gênero discursivo em uma 4a série, a fim de que os alunos desenvolvam suas capacidades argumentativas e se assumam sujeitos/autores de seus textos dissertativos.

PALAVRAS-CHAVE: argumentação; interação; produção escrita; crianças.


[...]
A pesquisa em sala de aula: algumas reflexões e conclusões preliminares

Através de uma metodologia caracterizada pelo estudo do tipo etnográfico, realizou-se a pesquisa na 4a série A do Colégio de Aplicação da UFSC, em 2000. Visando, ainda, implementar a produção de textos escritos junto aos alunos desta classe, foi realizada uma intervenção colaborativa que preconiza um trabalho conjunto com a professora regente e colaboração progressiva entre a pesquisadora e o grupo pesquisado.
Um forte motivo para introduzir a produção escrita de textos dissertativos nessa 4a série, por intermédio de intervenção colaborativa, foi a constatação, através de observações diárias, do domínio da forma discursiva dissertativa oral pelos alunos. Então, por que adiar este trabalho escrito para séries finais do Ensino Fundamental? Conforme depoimentos da professora regente: os alunos preferem os textos narrativos, onde eles narram o acontecimento. Também não trabalhei assim com eles o narrativo tem essa e essa procedência e o texto dissertativo tem essa e essa e assim por diante. E a dificuldade deles nos outros tipos de textos é maior. Pra mim também a maior facilidade é o texto narrativo. Através do posicionamento da professora, compreende-se que a insegurança e a falta de informação a respeito da produção de textos dissertativos eram fatores claros para abdicar deste trabalho.
Conseqüentemente, procurando oferecer condições de produção aos textos dissertativos junto aos alunos, foram realizadas, primeiramente, diferentes tarefas. Destacam-se: atividades de leitura, reflexão e análise de pequenos textos em busca da tese central e argumentos presentes; elaboração de argumentos escritos, com vistas à realização de um debate político, entre alunos, e posterior votação; exercício de construção de esquemas, com o objetivo de guiar os alunos na formulação de delimitações de um assunto a serem discutidas num texto escrito; leitura de alguns textos de enciclopédias e revistas, a fim de analisarem a configuração de textos: título, subtítulos, gravuras, gráficos etc., a qual facilita a compreensão dos leitores e, por fim, ordenação lógica de parágrafos de um texto intitulado “História da escrita”, no intuito de que os alunos localizassem expressões – pistas lingüísticas – deixadas pelo autor do texto, para a compreensão da evolução histórica da escrita e, assim, poderem ordenar cronologicamente os parágrafos.
Realizada esta trajetória inicial com os alunos, quatro propostas de produção de textos dissertativos foram desenvolvidas. A primeira, um texto evidenciando o ponto de vista e argumentos críticos do aluno acerca de um notícia atual, a qual foi escolhida e lida pelo próprio aluno. Vale ressaltar que já era atividade semanal, para os alunos da 4a série A, a exposição oral sobre um acontecimento atual do Brasil ou do mundo. A segunda proposta foi a produção de um texto revelando a evolução histórica de alguma descoberta humana. Para isso, a tarefa de cada aluno, foi, inicialmente, pesquisar e ler sobre um tema do próprio interesse, para então ter informações e condições para produzir um texto dissertativo. A terceira proposta foi uma resenha crítica sobre o filme “Os Batutinhas” proposto pela bibliotecária da escola. Anterior a esta produção escrita foram realizadas leitura e análise de uma resenha crítica, intitulada “Cadeiras Vazias”, do autor Sérgio Rizzo. A última proposta foi um texto argumentativo, assim denominado, pois versava sobre um tema polêmico – violência – apresentando, dessa forma, pontos de vista contrários na mesma produção. Para viabilizar as discussões sobre este tema, foi feito, inicialmente, um debate coordenado por um policial. Assim, os alunos tiveram oportunidades de participarem ativamente das discussões. É importante destacar que atividades coletivas de reescrita foram desenvolvidas, a fim de orientar, de forma mais objetiva e diretiva, a reelaboração dos textos produzidos pelos alunos. Também, foram estabelecidos interlocutores reais para a produção de cada um dos quatro textos realizados durante a intervenção colaborativa – decisão esta que muito impulsionou os alunos.
As produções dos quatro textos dissertativos, na 4a série A do Colégio de Aplicação da UFSC, apontam para algumas constatações iniciais. A afinidade com o ato de narrar é explícita se comparada com a atividade da argumentação. Como constata Dolz (1995), a redução de atividades lingüísticas aos textos narrativos e descritivos, nas séries iniciais do ensino fundamental, justifica-se pela hipótese que há uma sucessão gradativa para o ensino desses gêneros discursivos. Desta forma, é adiado o trabalho com textos dissertativos escritos. Apesar da produção freqüente de textos narrativos, os alunos reagiram, na maior parte das vezes, de maneira positiva diante de atividades e propostas voltadas à produção de textos dissertativos. Porém, em muitos momentos, eram evidenciadas certas atitudes de resistência à realização dos trabalhos, provavelmente pela insegurança diante de um novo objeto (texto dissertativo), pela falta de conhecimento e por terem internalizadas muitas concepções sobre a produção de textos referentes a exigências meramente escolares.
Os textos produzidos demonstram ser coerentes às situações comunicativas propostas, ou seja, eram adequados às situações específicas de interação. Por exemplo, nos textos sobre o tema polêmico “violência” é evidente o posicionamento crítico dos alunos, apesar de muitos revelarem dificuldades em elaborar argumentos contrários ao próprio ponto de vista - contra-argumentos – conforme a proposta de produção deste texto. Confirma-se, por sua vez, que a necessidade de convencer e/ou persuadir um interlocutor representa um importante objetivo para a produção de textos dissertativos, distanciando esta atividade escrita de textos narrativos e da existência de um só destinatário: o professor.
Também é possível constatar que a organização do texto dissertativo se torna uma atividade mais objetiva, coesa e coerente para os alunos, se condições de produção forem favoráveis para que eles realizem escolhas de diferentes estratégias de dizer – procedimentos lingüísticos, a fim de sustentar uma afirmação, obter a adesão dos interlocutores e/ou justificar uma tomada de posição. Assim, as participações dos alunos, nas atividades precedentes à primeira versão dos textos (leitura e análise de textos, debate oral, por exemplo) e, principalmente, à reescrita dos textos, no tocante aos aspectos discursivos, configuracionais e lingüísticos, foram decisivas para determinar as escolhas específicas realizadas por cada aluno. Revelam-se, ao longo do processo, marcas de um maior comprometimento dos alunos com seus dizeres, em que esses sujeitos se assumem autores de seus textos dissertativos. A partir dessa tomada de posição, por parte dos alunos, é possível inferir que a atividade de argumentação escrita vai sendo ampliada e qualificada por intermédio de novas experiências e conhecimentos, permitindo veicular, a cada texto dissertativo produzido, uma unidade de sentido. Nessa perspectiva, é confirmado que atividades com textos dissertativos escritos, já nas séries iniciais, neste caso de pesquisa – 4a série, possibilitam ao aluno expor o ponto de vista e assumir uma posição crítica diante de fatos reais, desenvolvendo, assim, a capacidade argumentativa.
Apesar das reações e atitudes positivas, outras parecem caminhar numa direção contrária. Surgiam algumas reclamações quanto à atividade de reescrita dos textos. Mesmo havendo interação entre os alunos na atividade oral, precedente à reescrita, surgindo várias sugestões de mudanças para os textos, o trabalho com a linguagem escrita não seguiu esta mesma direção. Certamente, as formas de interação entre texto, professor e aluno desenvolvidas em sala de aula, no período anterior à intervenção colaborativa, contribuíram para essas atitudes controversas dos alunos.
Portanto, a afinidade, a experiência e a segurança com a produção de textos dissertativos serão ampliadas gradativamente nos alunos, através da continuidade desse trabalho nas séries seguintes, proporcionando a eles novas habilidades nessa atividade escrita.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986.
_____. Estética da criação verbal. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
DOLZ, J. Learning argumentative capacities: a study of the effects of a systematic and intensive teaching of argumentative discourse in 11-12 years old children. Argumentation, n.10, p. 227-251. Netherlands, Kluwer Academic Publishers.
GALVES, C.; ORLANDI, E. P.; OTONI, P. (Orgs.) Técnicas de aprendizagem da argumentação escrita. In: VIGNER, G. O texto, leitura e escrita. 2.ed. São Paulo: Pontes, 1997. p. 117-136.
GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
KOCH, I. V. Argumentação e linguagem. 5.ed. São Paulo: Cortez, 1999.
LEITE, S. A. da S.; VALLIM, A. M. de C. O desenvolvimento do texto dissertativo em crianças da 4a série. Cadernos de pesquisa, São Paulo, n. 109, p. 173-200, março 2000.
MARTIN, J. Factual writing: exploring and challeging social reality. 2.ed. Oxford: Oxford University Press, 1990.
MARTINEZ, R. H. B. Subsídio curricular de língua portuguesa para o 1o e 2o graus; coletânea de textos. São Paulo: CENP/SE, n. 23, p. 51-9, 1997.
PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1999.


FONTE: http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/31/htm/comunica/CiII07a.htm

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

DEPOIMENTOS SOBRE O GESTAR II


Com a Palavra...

“A minha opinião sobre o Gestar é que ele é um projeto muito bom, que nos ajudou a elaborar projetos como gêneros textuais e o Memorial que foi um dos que eu mais gostei.
Gostaria que um dia eu pudesse visitar o Gestar só para ver como esses projetos chega até nós e também ver como é lá, pois, tenho essa curiosidade e espero que vocês possam atender ao meu pedido.” (
Gislanny Gomes, 8º ano Turma A)


“Achei as questões do teste boas e de fácil entendimento, algumas de raciocínio lógico.
Os trabalhos de gêneros textuais como, por exemplo, os dos meios de comunicação foram ótimos onde o tema gripe suína que estava em alta foi muito falado.
O memorial foi um dos que mais gostei porque nós nos lembramos de coisas que estavam perdidas na nossa mente além de aguçar nossa escrita e leitura." (Franciele Gonçalves, 8º ano Turma A)


"Os trabalhos e todos os outros processos que ocorreram neste ano foram muito bem passados para todos nós alunos e este ano letivo foi muito novo para nós." (Taynara Francisca Santos 8º ano, Turma A)


"Bom eu gostei muito das últimas aulas de português porque foram muito comunicativas para que eu aprendesse mais sobre o mundo como o texto Essas meninas. Ele me alertou como está a violência hoje em dia; pois com um simples ato de violência a vida das meninas mudou e um passe de mágica. Enfim, as aulas foram exemplares. (Natalia Silva Correia, 7ª A)

E"u adorei as aulas porque elas eram divertidas e assim você via que os alunos participavam, pesquisavam e o mais importante aprendiam e se divertiam com aulas participativas, pesquisas interessantes e assuntos novos e surpreendentes. As aulas fizeram eu ver o português de outra forma eu nunca imaginei que português era tão legal e interessante. (Nayara Pámela, 7ª A)


  • Elizabete Tomaz (Escola Claudino Leal)

O Gestar II para mim foi de suma importância, pois, está sendo uma das melhores capacitações que já participei. No início foi difícil acreditar nesse projeto, mas com o decorrer dos trabalhos fui refletindo e analisando sobre esse projeto e cheguei a conclusão que era isso que estava faltando para nós, professores alguém que nos levasse a sério e não quisesse passar apenas conteúdos jogados.
A única crítica que eu tenho a passar é o curto tempo que temos para os encontros, pois, apenas um por mês é muito pouco para desenvolver um trabalho tão interessante e a troca de experiências, gostaria que da próxima vez tivéssemos mais tempo para nossos encontros, mas apesar disso o que nos motivou foi a experiência da professora Formadora, uma excelente profissional, que soube fazer com que esse pouco tempo tirássemos o máximo do proveito.
Aprendi muito e desenvolvi habilidades que nem mesma sabia que tinha, pois não é fácil trabalhar com turmas superlotadas onde temos que observar aluno por aluno, porém sempre estamos à procura de novos desafios.
Agradeço a todos os integrantes do Gestar II pela oportunidade de nos proporcionar um curso desse gabarito e principalmente da Formadora por ter nos dado essa oportunidade em crescer tanto como pessoa e profissionalmente.

  • June Travassos (Escola Coronel José Domingos)
Na verdade fiquei surpresa com o projeto Gestar quando vi o resultado, em sala de aula. O livro didático (da escola) que trabalho com meus alunos não é muito interessante, salvo algumas atividades lúdicas que constam no texto e eu tento aproveitar bastante para que a aula não fique cansativa. Há textos e muitas atividades imensas.
Desde a primeira aula que apliquei, com o Projeto Gestar, notei que alguns alunos fizeram observações relacionadas, não só ao tamanho do texto, mas também ao tipo, percebi que se emocionaram. Assim que iniciamos as produções com as propostas lançadas pelo projeto, foi mais surpreendente ainda, eles se empolgaram nas suas criações e fizeram questão de apresentar para a turma.
Avaliando este resultado penso em selecionar textos menores e melhores, fazer a interpretação e compreensão oral, sugerir produções de acordo com os gêneros textuais e trabalhar a parte gramatical partindo das correções, quero dizer, dos próprios textos de alguns alunos colocados no quadro e fazendo-se a correção a partir dos "erros".
  • Maria Lucinda Trindade (Escola Izaulina de Castro)

O Gestar melhorou muito a qualidade das aulas de Língua Portuguesa. Venho percebendo que os alunos estão mais interessados com as atividades propostas pelo programa. Os textos apresentados são ricos e propõem uma temática interdisciplinar como no caso de “Essas meninas” de Carlos Drummond de Andrade. Realizamos debates, apresentações, e o texto levou os alunos a uma reflexão sobre os conflitos da adolescência. Através deste e de outro textos estamos fazendo uma releitura dos autores . As turmas têm se mostrado muito mais participativas.