segunda-feira, 20 de julho de 2009

O analfabeto do futuro

Competitividade, globalização e empregabilidade são expressões repetidas como palavras de ordem. Porem, o seu real significado esta distorcido pela banalização do uso. A base de todo o movimento de mudanças que essas palavras representam e a competência, que precisa ser vista como a habilidade de realizar. Estamos, em pleno século 21, travando uma luta contra o analfabetismo, a exclusão social e a desigualdade. Contudo, e preciso notar que a própria evolução competitiva da uma nova proporção a essas dificuldades. No inicio do século passado, a alfabetização era a condição de o individuo escrever seu próprio nome. Hoje, ela exige uma competência mais complexa. E preciso, em uma folha de papel, saber exprimir idéias com coerência e fluidez.

Por esse critério, podemos perceber que o problema do analfabetismo brasileiro e mais grave do que supúnhamos. Temos recém-formados que não passariam sequer num teste de redação. Quer dizer, temos analfabetos acadêmicos com nível universitário. Afinal, qual o valor de se desenvolver uma boa redação? Não e pela tarefa em si, mas pelo que representa em termos de raciocínio e capacidade de argumentação. Quando acompanhamos na mídia o embate entre países pela regulamentação do comercio internacional, não estamos vendo uma disputa baseada em números contábeis ou em classificações matemáticas. Estamos, sim, assistindo a um verdadeiro duelo de ideias, que precisam de mentes treinadas para elaborar argumentos e expressa-los com eloquência.

Enquanto embaixadores, negociadores e empresários se engalfinham em retóricas comerciais, nos também temos de desenvolver raciocínios comerciais mais bem elaborados e dar para nossas ideias uma argumentação que lhes permita aceitação e implementação. Em síntese, dominar a mesma técnica necessária para elaborar uma boa redação.

Parece estranho que nosso sucesso comercial como nação dependa da habilidade dos cidadãos em desenvolver uma boa redação, mas não se trata apenas da formação de literatos. Trata-se do domínio da tecnologia do pensar, do expressar, do compartilhar. A era das guerras físicas chega ao fim, mesmo com conflitos sangrentos. Os confrontos deste século serão cada vez mais intelectuais. O predomínio da mente sobre a forca bruta.

Nessa nova arena, a quantidade perde terreno para a qualidade. Não se contarão vitorias pelo numero de alfabetizados, mas pela habilidade dessas pessoas em dominar as técnicas para compor e expressar ideias. Já superamos a Era do Conhecimento, na qual o acumulo do saber era o diferencial competitivo. Estamos vivendo a Era da Cultura, na qual fará diferença a habilidade para selecionar o conhecimento de maior valia para determinado episodio.

Nessa esfera, a educação, que sempre foi apregoada como o meio para mudar o destino do pais, passa a ser insumo de primeira necessidade. Deveríamos colocá-la entre os artigos da cesta básica do trabalhador brasileiro. Deveríamos fazer mutirões de educação e espalhar o conhecimento como quem distribui o pão a quem tem fome. E, para eliminar a fome, teríamos de alimentar o saber.
Entre a necessidade de assinar o nome e a urgência em dominar a redação, passaram-se 100 anos. Para darmos o salto em direção a elaboração de teses cientificas para a competitividade do pais, não teremos sequer uma década. Estamos vivendo muitos mundos simultâneos, nos quais as eras agrícola, industrial e comercial se sobrepõem.

O desafio e fazer desse caldeirão um ambiente de aprendizagem, um laboratório de experiências, uma tribuna de dialogo e um campo de atuação da vanguarda.
Para isso, precisamos investir no desenvolvimento intelectual de nossos jovens. Precisamos de gente preparada para observar, conceber, desenvolver e exprimir ideias com desenvoltura e conhecimento. Precisamos de gente que, em uma simples redação, seja capaz de fazer a narrativa que ira contar a historia do futuro.
MAGALHAES,

Dulce. O analfabeto do futuro. In: Revista Amanhã, p. 74.

Disponivel em: www.elfa.ucpel.tche.br/docs/generos.doc Acesso em 12/06/09. 

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