terça-feira, 1 de setembro de 2009

TP 5: Na casa de ferreiro, o espeto é de ferro!

A providência divina (Jô Oliveira)
"Joaquim tinha muita fé em Deus, mas era um pouco teimoso.
Morava numa casinha que ficava perto de um grande rio.
Sua roça não ia muito bem, mas ele esperava que a providência divina tomasse conta.
[...]"

(Professores Cursistas, turma da tarde)

A leitura do causo popular de Oliveira (AAA 4, pág. 119) foi o pontapé inicial para que os professores Cursistas apresentassem aos alunos do 6º ao 9º ano das escolas da Prefeitura de Olinda (PE) pudessem não só (re) conhecer um gênero textual, mas também estimular a produção escrita de textos que circulam frequentemente na esfera da oralidade. Além, é claro, de fomentar o debate acerca das práticas de Letramento.
Sabendo o quão pode ser difícil a produção escrita para nossos alunos - para nós, professores, muitas vezes, também, não?! -, sugerimos aos professores Cursistas que contassem aos seus alunos episódios, que pudessem ter acontecido com eles mesmos, a fim de estimular a “contação” de estórias.
Muitos (as) colegas não se fizeram de rogados (as) e contaram seus “causos”. De acordo com o depoimento dos professores (as), para muitos alunos, aquela era a primeira vez que entravam em contato com aquele gênero textual; poucos (alunos) disseram conhecer o gênero a partir da narração de Ariano Suassuna em uma emissora da TV aberta.
É interessante registrar que, de um modo geral, os alunos que afirmaram não conhecer o gênero causo - e mesmo depois da leitura de A providência divina e do episódio vivido por seu (sua) professor (a) – apresentassem mais dificuldade em encontrar o “tom” do texto. Na verdade, muitas de suas produções eram mais um desabafo, textos em que o (a) jovem narrador (a) fala de sua dor, de algo que o incomoda (seria a angústia típica da adolescência?), embora, em momento algum revele o nome/ a forma de seu algoz.
Situação análoga viveu a professora Valdete Amorim, cujos alunos, também do 6º Ano, fizeram relatos/ desabafos de sua vida (muitas delas severina) sem reconhecer que não eram causos, e como poderiam saber se muitos não haviam sido “apresentados” a esse gênero?!
Houve quem, mesmo trabalhando o causo em sala de aula, optasse por dar ênfase ao gênero Memorial e discutir a importância de seu registro, na escrita, para as gerações vindouras. Elizabete Tomaz, professora da escola Claudino Leal, como Jaciara e Valdete, também deu o exemplo e leu trecho do seu próprio memorial para os seus alunos do 8º Ano.

A leitura de minha lembrança

Por Elizabete Tomaz (Professora Cursista)


Vaga é a lembrança de minha infância, quantos questionamentos faço-me a todo instante, desde o tempo de criança quando tinha eu seis anos de idade até os dias atuais. Posso relacionar alguns deles aqui: Por que aos seis anos eu já sabia ler se antes não tinha nem sequer pisado em uma escola? Será que tive incentivo de minha mãe? Nunca a questionei. Não tenho nenhuma memória antes dessa idade. Será que eu era uma menina bem dotada? Bobagem. Algo acontecia que nem mesmo sei explicar.
Sei que um dia as respostas virão sem nem mesmo esperar. Ainda não perguntei a minha genitora sobre esse fato. Veja só, já se passaram tantos anos, mas não me questione o porquê que nem eu mesma sei. Talvez por querer ficar com essa incógnita dentro de mim. Satisfação? Não sei. A única coisa que me recordo foi quando ganhei meu primeiro livro de historinhas. Lembro-me, até hoje, do formato dele. Era uma boneca que a cada página virada, que lindo! Lá estava ela com uma roupa nova, eu adorava lê-lo. Mas ainda não acredito que foi a partir daí que tomei gosto pela leitura.
[...]

Exemplo dado, e após algumas reescritas, temos o resultado de mais uma Lição de Casa:

Mudando de escola

Por Yanca Larissa, aluna do 8º ano

O início da minha educação escolar foi muito legal. Estudei em uma escola pequena, mas muito divertida que tinha apenas duas classes: maternal e jardim.
Gostava muito de estudar lá. Ah, como foi bom! Os desenhos, os números, as letras, a professora de quem tanto gostava e até meus colegas foram importantes para que eu ganhasse o gosto pelos estudos. As festas cheias de cultura eram um prato cheio de diversão e alegria. Que saudade! Gostei muito de tudo que aprendi nessa escola. Na hora do recreio tinha muito espaço e brinquedos para me divertir.
Minha irmã também estudou comigo, só que em outra classe, tenho certeza de que ela se lembra desse momento em nossas vidas
Infelizmente, eu não podia estudar lá a vida inteira. Que pena! Precisava mudar de colégio. Fui para o Claudino Leal. Que sorte! Sabe por quê? Foi nessa escola que eu aprendi a maioria de tudo que sei hoje. Aprendi também com as amizades que fiz, muitas vou levar para sempre comigo, não só as pessoas de minha idade, mas também alguns professores.
Se não me engano, foi aqui que eu ganhei meu primeiro dicionário o qual guardo comigo até hoje.
Atualmente, estou na 7ª série, meu Deus, como o tempo passou, e hoje, aquela escolinha virou uma casa e no ano que vem, que tristeza, me despedirei da Escola Claudino Leal, mas nenhuma dessas escolas sairão da minha memória!

À sessão Troca de Experiências, sucedeu o estudo da TP 5, mais precisamente a imbricação dos Recursos de Estilo, Coerência e Coesão. Os dois últimos, os vilões da famigerada redação.

(Professores Cursistas, turma da noite)

A fim de tornar a Oficina mais dinâmica, optamos por trabalhar com os divertidos e-mails que temos recebido de amigos e que “viram” material didático, mas sem perder de vista os textos e sugestões de atividades da TP trabalhada, principalmente, porque muitos professores admitem, devido à carga horária puxada que possuem, ter explorado pouco (ou quase nada) os textos e atividades das TPs e AAAs.
Após a leitura de Cada um é cada um (TP 5, pág. 15-16), discutimos a possibilidade de trabalhar esse material em sala de aula a partir da análise do estilo de diferentes personalidades e personagens, como Lady Kate, personagem de um humorístico da TV, cujo bordão “força na peruca” tem sido tomado de empréstimo por crianças, jovens e adultos.
Outro momento interessante, também, diz respeito ao fato de a coerência ser compreendida num sentido mais amplo, pois ela “não depende apenas da realidade das coisas e do mundo; coerência é uma característica que pode ser construída também na imaginação, nas possibilidades de “recriar”, por meio de imagens, um princípio de interpretabilidade, um fio condutor para a leitura e a interpretação do texto” (TP 5, pág. 88).
Nesse sentido, foi oportuna a análise de um dos textos, desses que recebemos em nossa caixa postal, e cujo processo de recriação aponta para a questão da Intertextualidade. Vamos a ele?!

CORRIGINDO 20 VELHOS DITADOS

01- "É dando que se ... engravida".
02- "Quem ri por último... é retardado".
03- "Alegria de pobre... é impossível".
04- "Quem com ferro fere.... não sabe como dói".
05- "Em casa de ferreiro... só tem ferro".
06- "Quem tem boca... fala. Quem tem grana é que vai a Roma!"
07- "Gato escaldado... morre, porra!"
08- "Quem espera... fica de saco cheio."
09- "Quando um não quer... o outro insiste."
10- "Os últimos serão ... os desclassificados."
11- "Há males que vêm para ... fuder com tudo mesmo!"
12- "Se Maomé não vai à montanha... é porque ele se mandou pra praia."
13- "A esperança... e a sogra são as últimas que morrem."
14- "Quem dá aos pobres... cria o filho sozinha."
15- "Depois da tempestade vem a .... gripe."
16- "Devagar.... nunca se chega."
17- "Antes tarde do que ... mais tarde."
18- "Em terra de cego quem tem um olho é ... caolho."
19- "Quem cedo madruga... fica com sono o dia inteiro."
20- "Pau que nasce torto... urina no chão."

Está claro que a coerência textual se constrói na relação entre o texto e seu contexto...
Como estudar a Coesão (em suas formas de justaposição, de referência e sequência), agora, uma vez que esta se constrói na inter-relação entre as partes do texto, fazendo dele um todo significativo, sem adentrar no estudo da Gramática Normativa, ou seria no gramatiquês?!
Ainda que tenhamos discutido atividades da TP 5 (Unidade 19, Atividade 10, pág. 143), que apontam questões como
"1. A que se refere o pronome Eles, que inicia o texto?
[...]
3. A que se refere o pronome átono em reproduzi-lo?"

Deixamos para explorá-la, a coesão referencial, a partir das produções dos alunos. Mas, antes, discutimos a justaposição (coesiva) em “A pesca”, poema de Affonso Romano de Sant’Anna e a coesão sequencial como recurso de estilo na propaganda

“Propaganda de companhia de gás natural: “Sabe aquela história do gás que acaba, do humor que acaba, da paciência que acaba? Também acabou”.

“Um é pouco, dois é pouco, três é pouco” (Chocolate BIS)

Fonte: A coesão referencial, os gêneros do discurso, os adolescentes e o ensino de Língua Portuguesa (Célia Regina Crestani – mestre em Lingüística - professora da UTFPR)
e na poesia

“Nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores”.
(Canção do Exílio, Gonçalves Dias)

"Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra”
(No meio do caminho, Carlos Drummond de Andrade)

Para estudo da coesão referencial, partimos do Avançando na Prática - TP 5, Atividade (adaptada) 17, pág. 162-163. O tema pensado não poderia ser outro que não a Gripe Suína, não porque ele venha, há algum tempo, ocupando a primeira página dos jornais, mas também pela criatividade do brasileiro em fazer piada com (quase) tudo.
Bem, mais uma vez recorri à internet e compartilhei com eles este e-mail que recebi nos últimos dias...

Divertido, não?!

Bem para adaptar a Atividade ao nosso, agora, escasso tempo, dividimos a turma de Cursistas em cinco grupos.

GRUPO A - O que aconteceu?
GRUPO B - Onde aconteceu?
GRUPO C - Quando aconteceu?
GRUPO D - Quem foram os envolvidos?
GRUPO E - Qual foi o desfecho da história?

A cada grupo corresponderia a resposta a uma pergunta. Os grupos não poderiam conhecer as respostas uns dos outros. Dez minutos após o início da atividade, cada grupo deveria ler a sua resposta que, em alguns casos, dava continuidade a resposta do grupo antecedente. Foi o caso do Grupo B que começou a resposta com o elemento coesivo “Isso”, retomando o que teria sido dito pelo Grupo A.
A incoerência, causada pela falta de coesão entre as respostas, provocou o riso dos participantes.
Após a leitura fragmentada, sugeri que reescrevessem o texto tornando-o o mais coeso possível, uma vez que “o fenômeno da coesão textual é solidário ao da coerência”.
O resultado, o leitor/ a leitora desse blog poderá conferir agora:

Pânico na TV

Os bichos, assustados com a gripe suína e imaginando como acabá-la, resolveram prender o porco, matá-lo e assim salvar a humanidade.
Isso aconteceu na Sessão de Bichos de Pelúcia da loja de departamento Riachuelo Recife, logo que as informações sobre a aterrorizante “gripe do porco” foram divulgadas através dos meios de comunicação.
Os envolvidos nessa ação foram: o coelho, o urso, o burro, o parto, o tigre e o porco Lino.
No entanto, diante da interpretação do veterinário Chico Bento, ficou comprovado que o porco Lino não era portador da gripe suína AH1N1, embora pertença à família suína.


Professores cursistas: Andrea Araújo, Ângela Cristina Costa, Alethea Cavalcante, Cassiana, Elis Galindo, Elizabete Tomaz, Flávia Silva, Jaciara dos Santos, Lucinda Trindade, Maria de Fátima Gonçalves, Maria do Socorro Lins, Sandra Amaral, Saulus Pereira, Sueli dos Santos, Valdete Amorim, Yanna Gonçalves.

Um comentário:

  1. Muito bom esse trabalho,a troca de experências nas demais escolas entre os cursistas.

    AMEI a ''correção'' dos ditados.Bem realista.

    Abraço.

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