domingo, 29 de novembro de 2009

TP6 e AAA6: Quando o aluno é o professor...

Estamos chegando ao final de nossa “gestação”: os projetos já estão nascendo, o comprometimento dos professores Cursistas é visível e o interesse dos alunos é algo animador.


Os projetos são os mais variados possíveis, vão desde “Mulher não é saco de pancada”-em que os professores cursistas Saulus Pereira e Elis Mônica, da Escola Antônio Correia no Alto da Conquista, que visa discutir a violência doméstica contra a mulher a partir de um trabalhar interdisciplinar que conta ainda com a participação da comunidade – até “A leitura na linguagem musical”, que será implantado na Escola Claudino Leal, sob a orientação das professoras Elizabete Tomaz, Maria do Socorro Marinho e Sandra Amaral. A ideia destas profissionais é levar a leitura, no sentido lato da palavra, de canções de ícones da Música Popular Brasileira como Heitor Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga, Hermeto Paschoal e Chico Buarque – parece-nos que as autoras do projeto comungam com a ideia do carnavalesco Joãosinho Trinta de que o povo gosta de luxo, diríamos que o povo precisa de luxo (!) – a leitura crítica das composições desses ícones, acreditam as autoras, tem como fatores determinantes os contextos étnicos, históricos e socioculturais, além da relevância da nacionalidade de determinada produção musical. É esperar para ver!
Quanto ao interesse dos alunos, reproduzimos, sem refacção, o depoimento de Yasmin Arlim, aluna da 7ª Série: “Eu gostei (do Gestar), por quê nós podemos refletir no texto, nós podemos usar o texto, Escreveno outro, foi muito interessante pois faz com que nos se dispertamos daquilo que estamos leno, e podendo reescrever o texto e melhor ainda, eu gosto de aulas assim, Por que é diferente e legal, e faz com que possamos usar a cabeça e interte os nossos pensamentos”.
Maravilhoso, não?!
Ou ainda: “Numa sala de aula é fundamental não ficar só aprendendo sobre sujeito, predicado, compreensão de texto, etc. Tem que criar, dar nossa opinião, usar nosso talento num anúncio publicitário, criarmos algo e provarmos que dá certo em trazer novidades com aulas mais atrativas. Tinha dificuldade em saber a diferença entre descrever, argumentar e narrar. Com as atividades, minha dificuldade diminuiu. Criamos histórias que de tão malucas, ficaram engraçadas. Gostaria que as aulas fossem sempre assim”. Gleice Kelly, 14 anos, aluna da Escola Ministro Marcos Freire, aquela mesma que tem como projeto didático para 2010 “Conhecer o Sol Nascente através dos gêneros textuais”, sob a orientação da professora cursista Jaciara dos Santos.
Essa disposição dos alunos também aparece na Avaliação Diagnóstica, pois, mesmo tão jovens, os alunos do 6º Ano, se dispuseram a colaborar com o sucesso do Gestar II:
“[...] Com o conhecimento de que iriam participar de uma avaliação Diagnóstica do Gestar II, os alunos demonstraram bastante interesse e disposição em nos ajudar. Sendo assim, chegamos a seguinte conclusão: a maioria da turma apresentou bons resultados nos descritores que faziam referência à localização de informações explicitas em um texto; reconhecer, em narrativas, a fala do narrador e das personagens e relacionar textos de gêneros diferentes.
Quanto aos descritores com maior índice de dificuldade, foram aqueles em que se fazia necessário o reconhecimento, no texto, do valor expressivo dos recursos linguísticos e o efeito de sentido gerado por eles.
Na produção de texto, a maioria apresentou dificuldade na coerência e coesão do texto. Com base nestes dados, faz-se necessário um trabalho efetivo, com o auxílio do Gestar II, nestes descritores com baixo aproveitamento, para que os alunos possam avançar com sucesso” Socorro Marinho, professora da Escola Claudino Leal.
É nesse sentido que temos trabalhado em nossas oficinas a que chamamos de Tarefa de Classe e, se o aluno está lendo/escrevendo melhor (e o faz com prazer!), é porque temos professores que estão fazendo sua Lição de Casa. E, se a dificuldade é como a coerência e coesão do texto, nada melhor que trabalhar com o professor essa dificuldade a partir do Planejamento da escrita do TP6, ou melhor, do Caderno AAA6.
A nossa Tarefa de Classe nessa oficina foi tentar “unir a fome com a vontade de comer”. Explicamos: observamos que alguns professores (não necessariamente os professores cursistas) ainda trabalham as datas comemorativas, a exemplo do ciclo natalino, de maneira tradicional, e como a reflexão crítica tem dado o tom nos textos que produzimos (nós e nossos alunos!) na sociedade (e para ela), planejamos a nossa escrita, enquanto alunos-professores, a partir do tema “violência contra o menor”. Nesse sentido, começamos fazendo uma leitura crítica da tirinha de Quino (cartunista argentino) em que a precoce Mafalda defende a tese a tese de que “o mundo está doente”, claro, com crianças que (sobre) vivem nas/das ruas!
Em seguida, mostramos uma série de fotos de crianças que são o retrato do abandono do poder público e perguntamos aos professores cursistas, numa referência ao “Qual é a música?”, que canção seria a trilha sonora para aquelas imagens. A primeira resposta acertou em cheio na canção que havíamos selecionado, trata-se de O Meu Guri, de Chico Buarque. O passo seguinte foi apresentar um vídeo desta canção e que está disponível no em http://www.youtube.com/watch?v=wkF0UAGQ8Uc&feature=fvst
Associamos a imagem da mãe que se “orgulha” do filho que “disse que chegava lá”, bem como o seu sofrimento, à imagem da Pieta (1499) de Michelangelo, e uma releitura dela, um quadro “fragrante” das grandes cidades:
A discussão que esse material suscitou é parte do planejamento da produção escrita que o aluno, quer dizer, o professor realiza sem “sentir”... Havia algo, ainda, que queríamos explorar mais e que nos remete à ideia de unir o útil ao agradável; nesse sentido, mostramos-lhes mais duas imagens para que os auxiliassem na sua produção textual:

TEXTO A


TEXTO B
No passo seguinte, adaptamos as sugestões de Atividades do AAA6 para o tema que estávamos trabalhando e dividimos a turma em três grupos com as seguintes atribuições:
Grupo 1- Elaboração de uma Peça teatral a partir de uma das imagens acima (Adaptação do AAA6)
Grupo 2: Retrato falado (e poético) do personagem que aparece no texto-imagem (Adaptação do AAA6, pág. 40)
Grupo 3: Propaganda da peça teatral (Adaptação do AAA6, pág. 44)
Nessa Atividade especificamente, os grupos teriam que interagir a fim de que garantir a coerência e coesão de suas produções que deveriam formar um todo. Nesse sentido, demos o seguinte comando:
“Agora que você já conhece as características da peça teatral e o retrato falado (e poético) do protagonista, pode criar uma propaganda que garanta aos “produtores” vender o “seu produto” e, de quebrar, discutir nossa responsabilidade social. Como você não tem experiência na área da publicidade, nós lhe daremos uma ajudinha...”
MAIS UMA VEZ INSPIRADOS NO AAA6...
Para preparar uma propaganda, são importantes alguns cuidados:
• Dê maior destaque às qualidades.
• Direcione o seu texto ao “público consumidor” adequado.
• Fale o essencial para não cansar ou desestimular o possível espectador.
• Procure apresentar no texto uma imagem, palavra ou sensação agradável (mas pode ser também reflexiva!), para aproximar o leitor do texto e seduzir o consumidor. O título (inicial) da peça é só uma sugestão.
• Escolha com cuidado o que vai dizer: selecione bem as palavras, faça frases claras e diretas e não deixe dúvidas sobre o produto.
Por fim, não mencione qualquer informação negativa sobre a peça; é melhor ignorar do que tentar justificar.
* Invente um título interessante para a peça.
* Escolha as informações que você apresentará em sua propaganda.
* Defina a ordem em que as informações serão organizadas no texto.
* Defina a imagem que acompanhará o seu texto.
* Crie uma frase forte para atrair o espectador. Utilize-a como título ou como desfecho do texto.

Durante a produção textual, percebemos que dois grupos se fundiram, pois alegaram que não teriam tempo (sempre ele!) para organizar uma peça teatral e encená-la. Concordamos com os colegas e sabemos que, em nossas turmas de 6º ao 9º, tempo é o que não faltará aos nossos alunos; além disso, eles adoram trabalhar com peças teatrais.
Outra questão observada é que os dois grupos não interagiraram realmente(Propaganda e Retrato Poético), e o resultado disso aparece na falta de coerência e coesão de suas produções. Vejamos:

PROPAGANDA:“A história de Natal que sua mãe não contou”
A peça Anjos Rebeldes está em cartaz há três anos e é recorde de público em todo o país. Agora, chega a sua cidade em curta temporada. Não perca e leve a sua família. O ingresso é um quilo de alimento não perecível para ser doado a uma instituição de caridade. Seja você também, neste natal, um verdadeiro Papai Noel.
Ho! Ho! Ho! Ho!

Grupo: Andrea Maria, Ângela Costa, Jaciara Santos, Valdete Amorim

RETRATO FALADO, POÉTICO:
E agora, José?
A Escola acabou
A vida chamou
Você fugiu
Sua vida mudou
E agora, José?

Sarará, sorriso inocente
Teus olhos tristes que pedem socorro
Mostrando a criança
Chupando o dedão, com a cola na mão
E agora, José?

Abrir os olhos pela manhã
É remar contra a maré
A esperança só presente
No verde-cinza, José
E agora, José?
José para a vida
E agora, José?
Para a vida.
Qual vida?

Grupo: Alethea Neves, Elis Mônica, Elizabete Tomaz, Márcia Cilene Andrade, Maria de Fátima, Maria do Socorro Marinho, Yanna Rocha

É inegável a criatividade de nossos colegas cursistas, mas é preciso reconhecer que, talvez devido ao famigerado tempo, não conseguiram planejar bem essa atividade, daí a falta de conexão entre as produções... Situação parecida ocorre na sala de aula, a diferença é que os “grupos” seriam as ideias, os parágrafos que não estão/são coerentes e/nem coesos.

Devido ao avançando da hora, os professores não conseguiram fazer a refacção dos textos, essa “tarefa” foi proposta aos professores cursistas da turma da noite que, após passarem pelo mesmo processo de discussão do tema e reflexão das inadequações, propuseram as seguintes “soluções”:

1 – era preciso saber a sinopse da “peça teatral” para poder se pensar no “retrato falado/poético” do protagonista e, posteriormente, na “ propaganda da peça”;

2 – a mudança no título da peça de “Anjos Rebeldes” para “Cem paz neste Natal”, uma vez que esse título dialogava muito mais com a imagem escolhida pelos professores cursistas (do turno da tarde) que corresponde ao garoto com a arma em punho e a frase: “NESTE NATAL LEMBRE-SE DE MIM”;
3 – a mudança mais “radical” foi no retrato poético, pois em vez do poema E agora, José, de Carlos Drummond de Andrade, os colegas parodiaram a canção A novidade, do grupo Os Paralamas do Sucesso.

VAMOS À REFACÇÃO DOS TEXTOS?!

PROPAGANDA
“A história de Natal que sua mãe não contou”A peça Cem paz neste Natal está em cartaz há três anos e é recorde de público em todo o país. Agora, chega a sua cidade em curta temporada. Não perca e leve a sua família. O ingresso é um quilo de alimento não perecível para ser doado a uma instituição de caridade. Seja você também, neste natal, um verdadeiro Papai Noel.
Ho! Ho! Ho! Ho!

SINOPSE DA PEÇA

Cem paz neste Natal Família de classe média vai às compras na época natalina e se depara com uma situação inesperada.

RETRATO POÉTICO FALADO DO PROTAGONISTA
A novidade era o máximo
Um paradoxo numa mesa alheia
Alguns comendo uma farta ceia
Outros lá fora sem dinheiro e sem meia

Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão igual
Ô!, Ô!, Ô!, Ô!,
De um lado este Natal
De outro, a fome total
Ô!, Ô!, Ô!, Ô!,

Um menino de rua
Despenteado e desdentado
Abandonado e maltratado
Humilhado e vigiado
Quer apenas um bocado
Do que você tem se fartado

Cem reais ele não tem
Mas com a arma ele vem
Sem medo de morrer
Ele busca seu natal
Se você se esquecer dele
Você vai se dar mal.


Grupo: Bruno Rodrigo, Israel de Oliveira, Ladijane Correia, Larrineide Mariano, Rosileide Ferreira

Embora não tenhamos acesso à “peça” escrita, ao lermos as refacções dos textos, percebemos como essa atividade é relevante no processo de coesão e coerência não só em um mesmo texto, mas também entre os demais gêneros textuais aqui produzidos. Ademais, o aparecimento no texto de palavras como cem/sem permitem-nos, por exemplo, abordar um dos “conteúdos” propostos pela gramática normativa, a saber, os parônimos, não é mesmo?!
Imaginem quantos “assuntos” ainda poderíamos apontar?
Bem, como vocês podem perceber, a socialização (e refacção) dos textos está ocorrendo primeiro pela web; mas, no dia 09/12/2009, estaremos todos juntos (professores cursistas da tarde e da noite) a fim de trocarmos nossas (e novas!) experiências e, é claro, confraternizar-nos!

Até lá!
Um grande abraço,

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