domingo, 4 de outubro de 2009

Vale a pena conferir: Gramática sem decoreba

Revista Nova Escola - Edição 201 Abril 2007
Língua Portuguesa - Prática pedagógica

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Mais que a classificação, é preciso saber a função
Apenas encontrar substantivos e pronomes em um conto não é suficiente para ampliar o conhecimento da gramática, segundo Irandé Antunes, da Universidade Estadual do Ceará. "É preciso ir além das definições para descobrir, por exemplo, a função deles na introdução e na manutenção do tema ou do enredo", ela defende." Saber que é indeterminado o sujeito de uma frase é muito pouco. O importante é compreender por quê, com que propósito discursivo, se preferiu deixá-lo assim."Portanto, diz Irandé, é necessário ir além da nomenclatura, das classificações, da simples análise sintática de frases soltas para ver como as unidades da língua funcionam na construção dos textos e que efeitos seus usos podem provocar na constituição do discurso.
As pesquisas sobre o ensino de gramática levam em conta que, para haver uma boa comunicação, a pessoa deve adequar a forma como se expressa à situação comunicativa em que se encontra. "A questão não é exatamente aprender as regras gramaticais, mas dominar também a língua culta de uso real, aquela de fato usada pelas pessoas mais escolarizadas", aponta Morais.
É essencial que a garotada aprenda a importância de falar e escrever de acordo com a variante lingüística prestigiada socialmente, que é esperada em determinadas situações sociais." Se o aprendiz a domina, poderá compreender mais o que é dito ou escrito pelas pessoas mais letradas. Ele vai entender o que foi escrito num tom mais formal, desfrutar de obras literárias, compreender melhor publicações científicas", explica Morais.
Além disso, o domínio da variante prestigiada permite que os jovens não sejam discriminados em certos contextos e lhes dá uma ferramenta a mais para lutar por seus princípios e interesses como cidadãos. Dominando os saberes de como a língua funciona, eles estarão aptos a distinguir, por exemplo, que palavras ou expressões serão adequadas ou não usar de acordo com a formalidade da situação ou com seus interlocutores. "É o que a lingüística conceituou de competência codemunicativa e que muitas escolas ainda não incorporaram. Ainda tendem a achar que se escreve e fala de um jeito só, como se não importassem o gênero textual e a situação comunicativa", diz Morais.

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Um grande desafio

Ensinar a gramática de acordo com as novas orientações é um grande nó para quem leciona Língua Portuguesa. "As aulas de gramática normativa, baseadas só em fatos da língua-padrão, não têm sentido para a garotada", admite Irene Tamaki Uematsu Harasawa, que leciona há 26 anos. Há sete, ao ingressar no Colégio Sidarta, em Cotia, na Grande São Paulo, ela mergulhou em um novo jeito de desenvolver o conteúdo. Para dar conta do desafio, faz muitos cursos. "Quando o estudante é estimulado a refletir sobre a língua, ele vai longe. Precisamos saber responder às questões."
Suas aulas para turmas de 6ª série se baseiam em diversos gêneros e na análise das escolhas lingüísticas feitas pelo autor para construir os sentidos desejados. Ao apresentar o poema O Homem; as Viagens, de Carlos Drummond de Andrade (publicado no livro As Impurezas do Branco) ela instigou a turma, primeiro, a pensar na pontuação. "Por que o autor utilizou ponto-e-vírgula no título?" Um garoto respondeu que o ponto-e-vírgula é uma pausa maior e daria a impressão de uma viagem que se alonga. Assim, os alunos analisaram as escolhas lingüísticas do autor e concluíram que são características da poesia.
Como analisa produções de gêneros variados, a turma de Irene percebe a grande variação de recursos. Para sistematizar os conceitos gramaticais, ela destaca algumas frases e, em vez de começar colocando as definição no quadro-negro - como fazia no passado -, dá diversos exemplos e provoca os jovens para que construam o conceito. "Na etapa final, confrontamos as definições deles com a do livro." Com esse processo, os estudantes refletem sobre as possibilidades de uso de determinadas palavras e realizam diferentes atividades para sistematizar o conhecimento.
FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/gramatica-decoreba-423568.shtml

Um comentário:

  1. Boa Noite Edvânea, Meu nome é Martiolli e eu sou professor de português numa escola particular na cidade de Pelotas/RS. Sou formado desde maio de 2014 pela UFPEL em Letras - Português e comecei a atuar em Setembro à Dezembro de 2015 em Curitiba e agora retorno para a sala de aula, aqui na minha cidade. Após realizada a leitura da matéria acima,e além de ter lido no site da Nova Escola na íntegra que por sinal é interessantíssima e esclarecedora, fica a minha dúvida ou até mesmo conselho diante de uma falta de experiência em relação ao trabalho com os conteúdos. A minha dúvida seria em relação a como manipular a gramática no contexto atual e exemplifica-la no texto, através da abordagem de um conteúdo do 9º ano Orações Subordinadas e Coordenadas, também Análise Sintática.
    Aguardarei o retorno, pois a preocupação é constante.Abraços!

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